Investigação é colaboração: como fazer funcionar

Por Ankita Anand

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Resumindo: nunca investigue sozinho. A colaboração é essencial para sua segurança, bem-estar e eficácia como investigador, independente do contexto. Mas o que significa colaborar e que tipo de colaborações são possíveis? Este guia irá ajudá-lo a planejar, organizar e executar sua colaboração com investigadores, fontes, e outros, para tirar o máximo proveito de suas próprias habilidades e da experiência de outras pessoas em seu time.

Nunca investigue sozinho!

Na verdade, é disso que este guia gostaria que você se lembrasse para sempre.

As colaborações acontecem em nossas vidas pessoais e profissionais a cada dia. Na vida profissional, vemos que em qualquer local de trabalho existem pessoas com diferentes conjuntos de habilidades e experiências que se reúnem para cumprir um objetivo e uma agenda em comum. No âmbito das investigações, colaboração geralmente acontece quando um grupo de pessoas com diferentes experiências estão preocupadas com uma questão de interesse público. Mas como as competências e capacidades de cada pessoa são limitadas, todos precisam da ajuda de outros que trazem os seus próprios conhecimentos e recursos para a mesa. Mesmo se uma pessoa tem um conjunto diversificado de habilidades, trazer pessoas diferentes ajuda cada uma delas a dedicar tempo e atenção às suas tarefas específicas, o que é especialmente importante em projetos larga escala.

Nem todos na equipe precisam estar diretamente envolvidos na investigação do assunto em si. Colaboradores essenciais podem incluir pessoas que apresentam efetivamente as conclusões da investigação a uma organização, governo, tribunal, ou ao público em geral. Outro exemplo, é alguém que trabalha regularmente com dados, como um analista ou um economista, que pode ajudar a equipe a entender os números envolvidos num caso de corrupção. E um designer gráfico pode saber como apresentá-lo ao público de forma simples e compreensível. Um artista visual e/ou um fotógrafo também podem ajudar capturando o resultado de uma investigação em um formato fascinante, junto com um desenvolvedor de site,se necessário. Jornalistas e organizações de notícias podem ajudar a tornar as informações recém-descobertas acessíveis a um público mais amplo. Ativistas, acadêmicos e pesquisadores podem auxiliar uma investigação com qualquer coisa, desde a fase de pesquisa de campo, verificação e checagem de fatos, até a fase de publicação e aumento de conscientização.

As colaborações podem ocorrer em vários níveis. Pode ser entre um cidadão local e um pesquisador de uma ONG que trabalha numa capital federal. Depois, há equipes de investigação transfronteiriças trabalhando em nível regional e global. Os facilitadores locais são especialmente úteis para uma investigação, porque concedem acesso aos investigadores.

Quais são os benefícios da colaboração?

As vantagens da colaboração são infinitas: encontrar melhores evidências, criando um impacto mais forte, trocar informações ou conhecimento, preencher lacunas de expertise ou de acesso e, por último, mas não menos importante, garantir segurança e proteção para os membros do grupo colaborador. Já se foi o tempo em que investigar sozinho era a chave para garantir exclusividade na descoberta de irregularidades ou na divulgação de uma notícia. Mesmo os mais experientes jornalistas investigativos admitem atualmente que as investigações tipo «lobo solitário» não são mais uma boa ideia (se é que alguma vez foram). Redes de colaboração podem tornar as informações descobertas mais fortes e aumentar seu alcançe.

Pessoas que se reúnem para expor irregularidades ou para falar a verdade sobre os poderosos, fortalecem as investigações, tanto nas descobertas quanto na apresentação, protegem melhor os investigadores e criam mais pressão sobre autoridades e governos para prestação de contas. Para muitas pessoas, pode ser difícil saber onde procurar apoio, financiamento e plataformas de colaboração. Mas identificar, mesmo que apenas um colaborador cujo trabalho envolva investigações, pode colocar você em contato com outros colaboradores e com os recursos necessários para realizar o projeto. Para ajudar no processo de investigação, outras partes deste kit, Expondo o Invisível, detalham as melhores práticas, ferramentas e técnicas.

Pessoas diferentes, habilidades diferentes

Levaria uma vida inteira para uma pessoa aprender todas as habilidades usadas em diferentes tipos de investigações. Em uma colaboração, você pode ter várias pessoas com habilidades únicas trabalhando para o mesmo objetivo simultaneamente. Mesmo que uma pessoa tenha mais de uma habilidade,o que é interessante e útil para projetos de baixo orçamento, é sempre melhor se o seu projeto gera trabalho e renda para várias pessoas que têm anos de formação e experiência na área.

Atingindo um público mais amplo

Cada pessoa é membro de uma comunidade, seja um círculo social ou rede profissional, e as pessoas nesses círculos e redes, por sua vez, têm suas próprias comunidades. Ter várias pessoas em uma equipe significa que os resultados podem ser distribuídos de forma não linear para um número maior de pessoas. Quanto mais pessoas, mais vias potenciais para levar a mensagem a outros. Alguns têm grandes audiências, como uma rede de notícias, uma organização com um grande número de assinantes de newsletter, um indivíduo usando ferramentas hábeis de engajamento de público, ou uma pessoa com forte presença na mídia. Um alcance mais amplo é igual a um impacto mais forte.

Contornando as restrições de viagem

A colaboração assumiu um significado renovado à luz das muitas restrições de viagens impostas pela pandemia. Existem também impedimentos perenes como regras de vistos e limitações orçamentárias. Quer seja no seu próprio país, ou em qualquer outro lugar do mundo, em vez de viajar, a opção mais viável é se conectar com pessoas de outras localidades para ter a tarefa concluída.

Compartilhando o trabalho

Uma investigação em grande escala pode parecer atraente por conta de seu potencial em causar um impacto maior com revelações abrangentes. Mas, uma vez que você começa a se aprofundar nas camaddas e a se afogar em documentos, é comum ser dominado pela confusão e pela ansiedade à medida que a excitação inicial desaparece. Um parceiro, ou equipe, ajuda você a manter a sanidade e lembrar que você não está sozinho.

Garantindo a responsabilidade

Se você assumiu um projeto voluntariamente e não é apoiado por qualquer organização ou grupo comprometido, a tarefa pode ser adiada ou você pode desistir completamente. Ter um colaborador proporciona um sentimento de responsabilidade mútua, o que pode diminuir as chances do projeto ser arquivado.

Garantindo a igualdade no local de trabalho

Investigadores locais costumam trabalhar bastante investigando os problemas que atingem sua comunidade, mas não são suficientemente reconhecidos. Se um investigador está contando com uma pessoa local para facilitar a investigação, é justo que o investigador local seja tratado de forma igualitária na história. Se o colaborador for jornalista, o reconhecimento poderia vir na forma de uma assinatura conjunta e pagamento compartilhado. Quando se trata de um associado que não deseja ser identificado, ou está ajudando com a logística, mas não está diretamente envolvido na investigação, a compensação pelo tempo ou despesas incorridas pode ser suficiente. No caso de um ativista, um investigador cidadão ou um grupo de membros ativos da comunidade, você pode conectá-los a recursos que os ajudem a levar adiante o trabalho deles.

Trazendo autenticidade

Alguns investigadores são criticados, com razão, por paraquedismo, um termo negativo usado para definir um estranho que vem para uma área local (às vezes trabalhando com muitas suposições não testadas), conduz rapidamente uma investigação, e sai em seguida. Nesses casos, pode ocorrer uma possível deturpação de realidades locais, história e contexto. Se tal história desinforma pessoas influentes como políticos e tomadores de decisões, a vida de comunidades inteiras pode sofrer consequências de políticas feitas com base em informações imprecisas. A parceria com alguém que tenha profundo conhecimento local ajuda evitar a exploração, ou deturpação, de uma comunidade local.

Perspectiva da oferta

Por mais bem informada que seja, uma pessoa não pode trazer uma visão perspectiva panorâmica de uma história, especialmente em um tempo limitado. Quando os indivíduos de diferentes histórias e experiências colaboram, eles trazem para a mesa perguntas e conexões que uma pessoa só nem consideraria, porque tendemos tomar como certos muitos fatos sobre o situação em que estamos inseridos. A perspectiva de um estranho nos faz perceber que algumas dessas coisas precisam ser questionadas ou explicadas na investigação para que um maior número de pessoas possa compreender as descobertas.

Aumentando a segurança

Os ataques a pessoas que fazem denúncias aumentaram tremendamente, mesmo em lugares anteriormente considerados «seguros». Mas há segurança em grupos - trabalhar em grupo ajuda a proteger você e seu trabalho.

Se uma reportagem for abafada em um país, ela pode ser amplificada em outros lugares.


Exemplo:

  • Forbidden Stories (Histórias Proibidas) é um exemplo de programa que visa dar continuidade e divulgar a obra de jornalistas enfrentando ataques.

  • The Signals Network (A Rede de Sinais) é uma organização que permite colaborações seguras e éticas entre a mídia e os denunciantes para promover o interesse público e incentivar a transparência e a responsabilidade.

Assim como uma pessoa local confia mais em sua comunidade, um forasteiro também pode ter acesso a pessoas e lugares em virtude dos privilégios que têm como estrangeiro. Um investigador da comunidade local poderia às vezes estar muito «sob o radar». Além disso, os estrangeiros que pretendem sair após a investigação provavlmente estarão muito mais seguros do que alguém que tem que continuar morando na comunidade.

Trazendo diversidade cultural e de gênero

Colegas de equipe de diferentes gêneros ajudam a ter acesso a diferentes lugares e pessoas. Uma mulher que sofreu violência sexual pode preferir falar com uma mulher, enquanto certos lugares religiosos podem permitir apenas a entrada de homens. Investigadores LGBTQI+ e/ou pessoas ligadas a comunidades marginalizadas podem ter acesso às suas respectivas comunidades mais facilmente do que outros.

Mas nem tudo é apenas obter acesso. Uma equipe diversificada ajuda a respeitar o direito do entrevistado de falar com alguém que está mais próximo de sua experiência de vida, que a estudou o suficiente ou recebeu formação relevante. Desta forma, sua investigação pode compreender melhor os entrevistados. Eles não têm que ter o trabalho de compartilhar todo o histórico de sua realidade vivida, o que permite entrevistas mais profundas e significativas. Uma mistura de identidades culturais, entre os colaboradores, também traz pontos de vista únicos e aprendizados para a investigação.

Montando o time (dos sonhos)

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Ao construir uma equipe forte e bem equilibrada, pense nas necessidades do seu projeto e o que procurar nos colegas que vão apoiá-lo. Liste as habilidades, fontes e recursos que você já possui, bem como o que você precisa para a investigação. Pense também além da equipe imediata. Você pode contratar especialistas no assunto para qualquer parte da investigação, ou para a investigação inteira. Você também pode recorrer a uma rede de apoio de conselheiros que não fazem parte da equipe, mas estão dispostos a ter uma conversa informal sobre suas experiências.

Abaixo, sugerimos uma lista de perguntas a fazer a si mesmo, mas certifique-se de personalizar sua própria lista, para seu ambiente e necessidades específicas.

O que procurar em uma equipe

Conjuntos de habilidades complementares, fluência em idiomas locais e acesso:

  • Quais são os documentos/lugares/pessoas a que não tem acesso e quem está em posição de obter esse acesso?

  • Se você estiver indo para um lugar onde não fala o idioma local, ou mesmo se você estiver conduzindo entrevistas remotas de pessoas cujo idioma você não fala, quem pode ajudá-lo, como um investigador local confiável ou tradutor?

  • Se uma comunidade é conhecida por ser fechada e não interagir com pessoas de fora, existe algum ativista local ou outros membros da sociedade civil trabalhando há anos com a comunidade e que poderia ser um aliado para ajudar você a conseguir acesso e confiança?

Especialização no assunto:

  • É possível que a investigação o coloque em situações hostis? Se sim, você conhece alguém que tenha treinamento em trabalhar em ambiente hostil ou mediação/atenuação de conflito e pode compartilhá-lo com a equipe?

  • Você está esperando receber muitas informações confidenciais de suas fontes digitalmente? Se sim, você pode encontrar alguém que possa garantir segurança digital para a investigação?

  • Se suas descobertas vão ser apresentadas online e, especialmente, se você tem muitos jovens entre seu público, alguém pode ajudar a projetar uma plataforma interativa?

  • Se a investigação vai produzir descobertas visualmente fortes, no local, você poderia entrar em contato com um cineasta ou um fotógrafo?

  • Se o caso tiver muita linguagem jurídica, ou se as pessoas expostas vierem a abrir um processo por difamação, você poderia entrar em contato com um advogado que trabalhe com esse tipo de questões?

Planejamento e organização da equipe

Faça um plano:

Planeje sua investigação e identifique as responsabilidades ou papéis que poderá querer para a execução do seu plano investigativo. Ter um rascunho de plano lhe dá uma noção das atividades que você pode realizar e os papéis e habilidades daqueles com quem você quer trabalhar. Para conhecer os elementos importantes de uma investigação, confira o guia «Do que é feita uma investigação» em outro lugar do Kit Expondo o Invisível.

Entrando em contato com potenciais colaboradores:

Você pode conhecer investigadores diretamente, ou conhecer outras pessoas que os conheçam. Caso haja uma organização que trabalhe sobre o assunto, você pode contatá-los para colaboração, e eles também podem indicar-lhe outros com quem tenham trabalhado e que possam estar interessados em prosseguir no assunto. Quando ler sobre o tema do seu interesse, você pode entrar em contato com os autores para perguntar se eles, ou as fontes que eles entrevistaram, gostariam de se juntar à sua investigação.

As redes sociais também são um bom local para estabelecer contato, se não conseguir encontrar suas informações de contato de outra forma, por meio de pesquisas online. Pessoas usam regularmente LinkedIn, Twitter, Instagram e Facebook para se conectar com novas pessoas. Você não precisa estar em todas essas plataformas para fazer conexões. Por exemplo, muitas pessoas têm seus e-mails na bio do Twitter, que você pode acessar sem criar uma conta para si mesmo. Se não encontrar as pessoas que procura, você pode entrar em contato com quaisquer organizações afiliadas, ou a colegas e solicitar que te apresentem.

Sempre que possível, conferências, workshops online ou offline, e outros eventos relacionados à investigação são alguns das melhores cenários para conhecer potenciais colaboradores, lançar ideias ou propostas de colaboração, e ter reuniões introdutórias que podem dar início a novos projetos.

Plataformas de colaboração:

Existem várias plataformas especializadas em ajudar a conectar jornalistas e outros investigadores e fontes da sociedade civil que procuram colaborar. Essas plataformas geralmente funcionam para qualquer tópico de investigação. Help A Reporter Out / HARO (Ajude um Repórter) ajuda os investigadores a encontrar as pessoas certas para trabalhar. Hostwriter e Global Investigative Journalism Network - GIJN (Rede Global de Jornalismo Investigativo) são algumas plataformas onde as colaborações ocorrem regularmente. O projeto Unbias the News (Desenviese as notícias) do Hostwriter incentiva histórias colaborativas e transfronteiriças para publicação. Project Facet também facilita colaborações.

Mas mesmo os grupos de redes sociais online e perfis individuais relacionados com investigações podem ser usados para alcançar parceiros potenciais. basta ir ao Facebook, Twitter ou LinkedIn e digitar palavras como «investigação» ou «investigativo», «OSINT - Open Source Intelligence». No Facebook, por exemplo, adicionando o filtro «Grupos» ao pesquisar essas palavras-chave, você encontrará grupos de investigadores que você pode pedir para participar. Esses grupos podem ser regionais ou temáticos. Lembre-se de que alguns são grupos privados e geralmente precisam fazer uma verificação de antecedentes em seu perfil de mídia social ou perguntar ao seu entorno para verificar se você é confiável.


Nota:

Alguns encontros e conferências de investigadores também têm páginas em redes sociais ou um fórum de discussão em seu site, como:

  • Dataharvest - Conferência Europeia de Jornalismo Investigativo.

  • ARENA - a organização que administra o Dataharvest - também hospeda um grupo de discussão e várias redes temáticas que você pode dar uma olhada e se inscrever se for relevante para o seu trabalho.

  • A Global Investigative Journalism Network (GIJN) tem um helpdesk, que também inclui conselhos sobre como identificar redes e possíveis fontes e colaboradores.

Você também pode iniciar seu próprio grupo, adicionar algumas pessoas relevantes que você conheça e, no devido tempo, outros investigadores procurando por companheiros de equipe podem se juntar.

Financiamento para colaboração:

As colaborações precisam de financiamento, porque, além das despesas de logística da investigação, todos os membros da equipe devem ser recompensados de forma justa. Clean Energy Wire (Notícias de Energia Limpa), Hostwriter, Journalismfund.eu (Fundo Jornalismo Europeu), European Journalism Centre (Centro Europeu de Jornalismo), n-ost, Pulitzer Center (Centro Pulitzer) são todos grupos que incentivam colaborações investigativas através de apoio financeiro. Mas se ler com atenção, muitas outras bolsas também permitem a possibilidade de ter uma equipe de dois ou três membros. A menos que seja explicitamente mencionado que apenas pessoas físicas podem se inscrever, sinta-se à vontade para escrever à organização que concede o apoio e pergunte se podem se candidatar como equipe. Além disso, confira as listas de Angariação de fundos e Subsídios e bolsas recursos, em inglês, que a GIJN fornece em seu site.

Convidando colaboradores para participar:

Muitas pessoas conseguem uma bolsa primeiro e depois procuram colaboradores. Dessa forma, elas informam às pessoas que têm um projeto financiado em mãos, não apenas uma ideia na cabeça. Com a confiança do financiamento, os novos membros da equipe se sentem mais seguros em investir seu tempo, concedendo ao iniciador um grupo mais diversificado para escolher.

Mas esse método tem um outro lado. O envio de pedidos de bolsas e financiamento pode ser bem demorado e trabalhoso. Pode ser muito para uma pessoa assumir, especialmente se for um projeto de grande escala. Se alguém consegue ganhar uma bolsa, isso pode criar, na equipe, a sensação velada de uma hierarquia. O iniciador, ou «líder», pode sentir que já trabalhou mais do que a outra pessoa e deveria ter mais voz no projeto. Um membro novo pode ter algumas preocupações legítimas sobre o projeto, mas pode não manifestá-las por causa da culpa de que o «líder do projeto» fez a maior parte do trabalho.

Se houver um colaborador que possa investir tempo para se juntar ao iniciador desde o início, todos sem beneficiam. Primeiro porque a proposta seria mais realista. Vamos pegar o exemplo de uma colaboração internacional. Um colaborador não prometeria trazer informações de sua região que, como residente daquele país, sabe que serão impossíveis de conseguir. Os orçamentos elaborados seriam mais específicos para a situação econômica dos países relevantes. A linha do tempo seria desenhada com base nos horários de ambas as pessoas, em vez de uma pessoa se matar para cumprir o prazo que o outro já prometeu aos financiadores.

Escolhendo o(s) colaborador(es) certo(s):

As pessoas que se inscrevem para participar de um projeto geralmente compartilham sua experiência de trabalho, por que elas estão interessadas na ideia, e com o que podem contribuir. Mas lembre-se de que currículos e biografias dizem o que as pessoas fizeram, não quem são, algo que é preciso saber para se trabalhar com elas.


Dica:

Invista tempo e enrgia em conhecer alguém e confie na sua intuição

Além das trocas de e-mail que estabelecem contato preliminar, interesse e informação, tente fazer videochamadas, ou pelo menos chamadas de voz. Conhecer um ao outro; veja se vocês têm compatibilidade ao discutir seus interesses de trabalho, modo e ética de trabalho, suas motivações e os resultados esperados em relação à investigação. Pergunte sobre o tipo de trabalho colaborativo que eles fizeram no passado (não precisa ser uma investigação). Descubra se eles são companheiros de equipe, discutindo áreas potenciais de conflito ou descrevendo um cenário e perguntando como eles lidariam com isso. Não ignore a sua intuição por causa de certos fatos, como as realizações em seus currículos. Ter essas conversas antes de escolher um colaborador é crucial.

Concordar com as condições de colaboração e qualquer compensação:

Quando os empregadores vêem currículos, eles contratam pessoas para fazer uma tarefa e pagam a elas na entrega. Mesmo que nem sempre seja explicitamente reconhecido, algum tipo hierarquia de poder ainda existe. As pessoas contratadas recebem apenas quando entregam. Se não o fizerem, elas podem perder esse pagamento, juntamente com sua própria reputação aos olhos da organização.

No caso de colaborações apoiadas por organizações, pessoas às vezes são pagas, pelo menos em parte, no começo. Você poderá estar em um tipo de parceria em que a pessoa que você está escolhendo não é um empregado, mas um parceiro. Você não quer enfrentar uma situação em que o dinheiro já foi desembolsado e você está tendo que perseguir membros que não cumpriram o que prometeram. Se for um caso em que você sozinho foi o iniciador do projeto no momento da aprovação do subsídio, e os parceiros foram envolvidos mais tarde, então como «líder» você corre o risco de perder a confiança da organização por não entregar.

Por esses motivos, um acordo preparado em conjunto é obrigatório. Algumas questões a considerar, ao preparar um acordo, incluem:

  • Como e quando a equipe deve se comunicar para compartilhar atualizações e tirar dúvidas?

  • Quais entregas são esperadas de cada pessoa e quando?

  • Com que frequência cada membro compartilhará suas descobertas? Isso é especialmente importante se um membro sair da equipe, por motivos imprevisíveis, para garantir que os outros tenham acesso a seu trabalho.

  • Qual é o plano B caso a equipe não consiga entregar algo prometido?

  • Qual é o período de tempo razoável dentro do qual as pessoas podem esperar respostas às mensagens? Se uma pessoa não responder depois desse período de tempo, a equipe pode seguir em frente sem eles, e em alguns casos restringirem o acesso a dados compartilhados para membros que não se comunicam? (Isso não é necessariamente nada contra a pessoa não comunicativa. Em vez disso, se eles perderem acesso ao seus equipamentos e sistemas ou, pior, se estiverem enfrentando algum tipo de coerção ou detenção,restringir seu acesso não apenas protegeria os dados, mas também o investigador.) Se eles aparecerem mais tarde com uma explicação para seu silêncio, como a equipe procederia então?

  • Qual é o objetivo final da investigação? Compartilhar as descobertas com uma comunidade afetada/para submetê-la a um tribunal/para tê-la divulgada pela mídia?

  • O que acontecerá com os dados/provas/documentação após o término da investigação?


Dica:

Desenvolva um Código de Conduta Compartilhado

Além de elaborar um acordo descrevendo os detalhes da colaboração, gerenciamento de trabalho e cronograma, gaste tempo em equipe para desenvolver o seu próprio código de conduta focado em expectativas mútuas sobre ética, diversidade e inclusão. Como um começo para qualquer boa colaboração, este código de conduta deve ser elaborado de forma colaborativa, e você pode organizar uma reunião online ou física (se possível) dedicada apenas a ela. Considere fazer um brainstorming e listar aspectos como: o que é aceitável como comportamento e o que não é; o que acontece se alguém quebra o código; como fazer crítica ou sugestões construtivas; como evitar ou lidar com a tensão, frustração e comportamentos agressivos; como respeitar privacidade e segurança uns dos outros – o que é permitido e o que não é permitido a respeito de diferentes tópicos, etc. Se você colaborar com uma equipe grande, você pode até designar um ou dois membros da equipe para auxiliar em quaisquer conflitos ou tensões que surgirem.

  • Veja mais conselhos sobre como configurar um código de conduta ou acordo de conduta compartilhada nos recursos *Gender and Security * (Gênero e Segurança) da Tactical Tech para treinamentos e para colaborações, e o «Zen and the art of making tech work for you.”(Zen e a arte de fazer a tecnologia trabalhar para você) para viabilizar as colaborações e outras dicas.

Colocando a papelada em ordem:

Se uma organização está patrocinando a investigação, pode exigir que cada membro da equipe assine um contrato com eles. No lugar de um contrato com um terceiro, o iniciador deve elaborar algo por escrito para garantir a entrega de certas tarefas, dentro de um prazo, por uma taxa especificada.

Antes de você e sua equipe pegarem a estrada


Segurança em primeiro lugar!

Garantir a segurança dos colaboradores e tentar antecipar os desafios é uma parte vital da sua investigação. Use o princípio “Não cause dano! (Do No Harm) para que nenhum participante da investigação, sejam fontes ou colaboradores, sejam impactados negativamente por ela.

https://cdn.ttc.io/i/fit/800/0/sm/0/plain/kit.exposingtheinvisible.org/collaboration/holistic-security.png Captura de tela do manual Holistic Security da Tactical Tech: https://holistic-security.tacticaltech.org/

Isso envolve entender o ambiente de trabalho, escolher aas ferramentas e plataformas de comunicação e avaliação de riscos. Para mais informações sobre questões a serem consideradas ao proteger sua equipe, fontes, e investigação, veja a seção: Planejamento de Contingência.

Risco é herdado:

Se você e seus colaboradores possuem pouco ou nenhum risco (por exemplo, vivem e trabalham em uma área segura), mas você está entrevistando uma pessoa que experimenta alto risco (por exemplo, vive em uma área perigosa ou trabalha em questões controversas), você herda esse risco. Seu nível de risco será maior por um período de tempo antes e depois da entrevista. Se você entrevistar alguém para uma reportagem ou artigo que será publicado, esteja preparado para o aumento do risco no momento da publicação. Quando investigar indivíduos em posições de poder e influência, esteja preparado para um risco maior e prolongado se eles tomarem conhecimento de sua investigação.

Por outro lado, assim como você herda os riscos de outras pessoas, eles herdam o seu. Operar em uma área de baixo risco ou ter um perfil de risco baixo não significa que você não representa nenhum risco para os outros. Pelo contrário - você pode aumentar o risco de outras pessoas com quem você interage. Isso pode acontecer quando um comportamento normal em uma área de baixo risco pode colocar uma pessoa em perigo em áreas de risco maior. Atos simples, como se comunicar em um celular pode ser seguro para alguém em uma área de baixo risco, mas o mesmo ato pode facilmente sujeitar alguém a perigo em uma área de alto risco.

Essas considerações precisam ser redobradas ao trabalhar entre regiões ou temas interseccionais, onde os membros da equipe podem viver contextos variados e operar sob riscos ou ameaças particulares. Toda a equipe deve se conscientizar das possíveis vulnerabilidades de todos os membros, e trabalhar para definir um plano de avaliação e atenuação de riscos para lidar com estas vulnerabilidades e ameaças. Lembre que o nível de segurança de uma equipe é o nível de segurança de seu membro em maior risco.

  • Leia nosso artigo Segurança em primeiro lugar! neste Kit para considerações básicas de segurança ao investigar.

  • Consulte o Holistic Security Manual (Manual de Segurança Holística) da Tactical Tech, em inglês, para obter uma abordagem detalhada que integra autocuidado, bem-estar, segurança digital, e segurança da informação em práticas tradicionais de gerenciamento de segurança de organizações e projetos colaborativos. O manual foi inicialmente concebido tendo em mente os defensores dos direitos humanos como público-alvo, mas é igualmente relevante para investigadores e qualquer pessoa que trabalhe em colaboração para expor questões que afetam suas comunidades.

Orientando a equipe

Uma etapa frequentemente negligenciada é explicar o projeto aos novos membros da equipe. Os líderes do projeto têm um conhecimento íntimo da investigação, mas nem todo mundo começa com esse nível de compreensão. Primeiro, você tem que colocar todos na mesma página. Caso contrário, você poderá começar a executar tarefas centrais do projeto quando alguns colaboradores ainda têm dúvidas relacionadas ao começo dele.

Após compartilhar a proposta aprovada pelos financiadores e os documentos de suporte com novos membros, conte-lhes sobre as histórias não necessariamente incluídas na proposta. Diga-lhes como você chegou à ideia, por que a história é importante para você, e qualquer outro aspecto do projeto que possa ajudar outras pessoas a criarem sua própria conexão com o trabalho que vocês estão prestes a fazer. Isso também vale para o orçamento - explique como você chegou a cada valor para cada categoria de despesas, e em que seus cálculos foram baseados. Se houver um salário incluído, foi um valor fixo alocado pelos doadores, ou você também orçou isso? No caso deste último, qual era o investimento de tempo que você tinha em mente? Se o tempo necessário parece mais do que o custo cobrado pelos investigadores, é porque houve um limite estipulado pelo financiadores? Ou é porque você sentiu que era importante passar parte desse fundo para algumas despesas? Se foi isto, há um plano onde eles podem ser melhor pagos mais tarde, depois que os resultados forem compartilhados publicamente? Se o valor da bolsa não for dividida igualmente, qual é a justificativa por trás disto? Isso indica uma divisão desproporcional de trabalho também?

A razão pela qual as pessoas costumam colaborar é porque o projeto é muito grande para uma pessoa assumir. No caso de projetos maiores, os membros da equipe podem ter que dizer não a outras atribuições e tarefas. Para um envolvimento de longo prazo, seria ingênuo não considerar o bem-estar financeiro de todos os colaboradores nesse período, principalmente freelancers.

Definindo funções

Uma divisão de trabalho bem definida é fundamental para a colaboração. Descobrir quem é responsável pelo quê desde o início evita confusão e mal-entendidos mais tarde. Uma vez atribuídas as tarefas, também é mais fácil para que as pessoas planejem sua agenda de acordo com quanto tempo cada uma de suas tarefas levará. Decida se deve haver um coordenador para o projeto com quem todos se sintam confortáveis, alguém que solicita atualizações e envia lembretes quando necessário. Alguns projetos têm uma pessoa exclusivamente dedicada a gerenciar a equipe e garantir que eles cumpram o cronograma.

Logística

Quando não há estrutura organizacional à qual recorrer, um ou mais membros da equipe terão que assumir responsabilidade sobre logística. Isso pode parece uma tarefa básica, mas há investigadores que não querem fazer parte desses arranjos, o que poderia ser qualquer coisa desde organizar horários para fazer câmbio de moeda para a equipe. Em tais situações, as equipes precisam descobrir como o trabalho pode ser dividido igualmente.

Créditos e agradecimentos

Como cada pessoa deve ser creditada? Por exemplo, o relatório deve listar nomes em ordem alfabética ou deve ser com base em quem mais escreveu? As pessoas muitas vezes pulam essas coisas porque têm vergonha de parecer mesquinhas ou presunçosas. Mas querer ser devidamente reconhecido pelo seu trabalho é uma preocupação genuína. Se as perguntas não são feitas e permanecem sem resposta na mente das pessoas, podem gerar ressentimentos que perduram, desgastando os relacionamentos e, por extensão, o projeto. Se um líder ou iniciador do projeto fala sobre essas coisas, ele evita colocar as pessoas em uma posição de debater se é correto levantar essas questões. E assim, também, estabelece sua boa intenção e transparência.

Ética e metodologia

Sentem-se juntos e cheguem a um acordo sobre ética e métodos de trabalho comuns. É importante abordar esta conversa com a mente aberta, porque pessoas diferentes podem ter opiniões diferentes. É melhor ter um entendimento comum desde o início, ao invés de ter que lidar com isso no meio da investigação. Por exemplo, há investigadores que são completamente contra operações secretas ou pressionar suas fontes para revelarem informações, enquanto outros consideram esses métodos aceitáveis quando o resultado pode levar à exposição de uma irregularidade.


Nota:

A questão ética se estende a decisões sobre ferramentas de software e plataformas que você pode escolher usar. Embora as ferramentas de código aberto às vezes possam apresentar limitações à tarefa de investigação em questão, muitas vezes também podem significar uma alternativa para ferramentas comerciais que podem não respeitar a privacidade dos seus dados. Para encontrar ajuda nas escolhas de plataformas, por favor consulte o artigo da Tactical Tech Technology is Stupid: How to choose Tech for Remote Working (em português, A Tecnologia é Estúpida: Como escolher Tecnologia para Trabalho Remoto).

Agendar

Algumas pessoas gostam de dormir cedo e outras tarde. Às vezes nossos horários são decididas por fontes ou por horários limitados para uma avaliação no local de investigação. Mas quando não é assim, como em qualquer organização, respeite o horário de trabalho que traçou para que as pessoas possam desligar, descansar, conversar com suas famílias ou dar um passeio. Não existe trabalhar 24 horas por dia com produtividade perfeita.

Verifique com seus parceiros sobre seus «não negociáveis». Até que horas eles estão disponíveis? O que eles acham de lidar com algo inesperado na investigação se acontecer em um fim de semana ou um feriado?

Requisitos de saúde

Se a equipe tiver que visitar um local que envolva uma longa caminhada, todos os membros se sentem bem fisicamente? Se não, aqueles que ficam para trás podem ajudar a equipe trabalhando em algum outro aspecto da história? Algum colega precisa seguir horários rígidos para as refeições, como uma exigência de saúde? Se sim, e a equipe estiver trabalhando em um cronograma errático devido a fatores fora de seu controle, talvez esses colegas devam carregar alguma comida seca com eles. Os colegas de equipe que são veganos ou vegetarianos também podem achar útil fazer o mesmo, caso nem sempre encontrem suas opções preferidas em todos os lugares ou horários.

Orçamento

Muitos subsídios e bolsas são flexíveis sobre quanto dinheiro é gasto para um determinado propósito, desde que seja gasto na investigação. Isso deixa muitas decisões financeiras para a equipe. Alguém pode querer gastar mais em acomodação, enquanto outro membro da equipe pode querer gastar mais em contratação de serviços como filmagem. É importante estar de acordo com o detalhamento das despesas desde o começo, mesmo que os financiadores possam ter aprovado um orçamento menos detalhado.

Os financiadores aprovam orçamentos com ressalvas sobre o que seu apoio poderia ou não cobrir. Ainda assim, durante a investigação categorias inesperadas de despesas podem surgir. Se possível, e se você não precisa fazer a despesa com urgência, é bom verificar rapidamente com os financiadores se esses tipos de custos seriam reembolsados. Pode não ser uma má ideia solicitar contato com a equipe de contabilidade do financiador também. Muitos departamentos de contabilidade têm regras extremamente específicas sobre os itens que seriam contemplados, como deveria ser o faturamento, etc. Às vezes, tanto quem está recebendo os fundos, quanto os pontos de contato na organização financiadora, não estão totalmente cientes dessas minúcias. É melhor ter clareza antes de gastar o dinheiro.


Nota:

O que a realidade nos ensina

Cada investigação traz à tona algumas novas realidades que financiadores e seus departamentos financeiros podem não ter encontrado antes. Compartilhar regularmente essas realidades com eles pode levar a novas regras que atenuam ou consideram a imprevisibilidade das investigações. Por exemplo, a contabilidade de uma organização uma vez insistiu em uma fatura de táxi impressa. mas o motorista da zona rural que atendeu o investigador não era alfabetizado e, portanto, não podia fornecê-lo.

Antes que investigadores e financiadores assinem memorandos de entendimento, os primeiros deveriam trazer para a mesa tais preocupações ou lições aprendidas com experiências passadas. O dinheiro muitas vezes tende a criar uma hierarquia invisível entre o doador e o receptor dos fundos. Assim, a equipe pode se sentir hesitante sobre levantar um monte de perguntas. Mas perguntar, discutir e então concordar em antecipação é muito mais viável do que pedir que os termos dos contratos sejam mudados depois. Financiadores que apoiam regularmente as investigações entendem que algumas situações imprevisíveis podem surgir em investigações e tentam ser flexíveis. Mas para que isso aconteça é importante que a equipe mantenha uma linha de comunicação ativa, honesta e aberta com eles.

Cartas de intenção

Uma coisa que tranquiliza os apoiadores monetários sobre as descobertas da investigação tornarem-se publicamente conhecidas são cartas de intenção. Elas são cartas enviadas por meios de comunicação, aos membros da equipe, dizendo que gostariam de publicar o resultado da investigação. Muitos investigadores abandonam a ideia de candidatar-se a fundos porque hesitam em solicitar as cartas, não recebem resposta das publicações, ou acham estranho perguntar a alguém, pela segunda vez, depois que sua primeira proposta de financiamento falhou. Para contornar isso, você deve se lembrar que:

  • Você não está realmente pedindo uma garantia a ninguém. Na verdade, muitos editoras, quando mencionam seu interesse em publicar, também acrescentam uma cláusula dizendo «sujeito a padrões editoriais», ou algo nesta linha. As cartas de intenção geralmente não funcionam como um vínculo legal.

  • Você também não está em um acordo legal com a publicação para publicar com ela. Se em algum momento você perceber que sua história é mais adequada para outra organização, você pode informar a publicação inicial disso, agradecendo-lhe o apoio.

  • As publicações geralmente têm orçamentos de viagem limitados. Se você oferecer uma reportagem investigativa para um jornal/site que só pode pagar pelo texto ou pelas fotografias, eles ficarão felizes em publicar a história por um valor menor do que pagariam para financiar toda a investigação.

  • Você não precisa garantir cartas das maiores organizações de notícias. Se você acha que alguns grupos menores foram mais solícitos no passado, você pode pedir a eles. Os financiadores também vão avaliar sua credibilidade olhando para os trabalhos, pesquisas, e investigações anteriores indicadas na sua proposta. Portanto, suas chances de obter a bolsa não dependem inteiramente de declarações de outras organizações.

  • Se houver um editor que ficaria feliz em fornecer a carta, mas pode estar muito ocupado para enviá-la a tempo, pergunte se eles preferem um modelo básico para examinar e assinar. O modelo pode ter apenas um algumas frases dizendo que a publicação está interessada na investigação e gostaria de publicar os resultados se todos requisitos editoriais forem atendidos.

Pós-produção

O que acontece depois que você coleta as informações e monta a história/reportagem? Todos os membros da equipe decidirão juntos sobre as plataformas (organizações, sites, eventos, etc.) onde colocarão a investigação disponível ao público, caso este seja o objetivo?

Por exemplo, se você planeja entrar em contato com ONGs e/ou organizações de mídia para publicar suas descobertas, deve haver um entendimento sobre isto com base na reputação, capacidade de distribuição, tempo de resposta e publicação, taxas e outros fatores que tal plataforma de publicação pode trazer para a mesa. Se você planeja criar e gerenciar seu(s) próprio(s) espaço(s) de publicação online ou offline, isso precisará ser acordado e planejado durante o processo de investigação, não na última hora, já que divulgar as histórias e gerar interesse nelas é um projeto inteiro, em si, e requer algumas habilidades para fazê-lo de forma eficaz.

Planos de contingência

O que fazer quando um membro da equipe se ausenta, precisa desistir no meio do projeto, ou não entrega o trabalho esperado de sua parte da colaboração? A quais planos de contingência você pode recorrer? Uma forma de minimizar esses tipos de perdas é o coordenador do projeto, e talvez outro membro da equipe coletar periodicamente os trabalhos atualizados, notas, conjuntos de dados, até mesmo recibos de despesas, etc., dos investigadores em intervalos regulares.


Segurança em primeiro lugar! - planejamento de contingência

O planejamento de contingência destina-se a fornecer a você um plano B, caso seu plano A falhe ou seja afetado de alguma forma. O planejamento de contingência deve fazer parte de seu planejamento geral de segurança e dos procedimentos de segurança que você deve adotar no início de suas atividades de planejamento.

É fácil se perder em atividades logísticas como reserva de passagens e hotéis. Mas antes de mergulhar nisso, faça uma pausa e faça uma avaliação de segurança do local que você está visitando. Nenhuma avaliação é universal. Um local pode ser totalmente seguro para um membro da equipe e repleto de riscos para outros, dependendo de sua identidade (gênero, religião, idioma, etc.) e relação com o local.

Também é importante que cada membro da equipe faça uma autoavaliação honesta dos riscos que pode enfrentar e não sinta a pressão de ser «corajoso» e descartar todas as considerações. Se houver hesitação em relação a isso, é bom lembrar que as ameaças enfrentadas por uma pessoa podem afetar toda a equipe e a investigação, por isso é melhor não subestimar nenhum risco.

Algumas questões a serem consideradas são:

  • Quais são os possíveis riscos em cada local que a equipe planeja visitar para sua investigação?

  • Os membros de baixo risco estão dispostos a assumir a liderança durante a viagem, por exemplo, fazendo perguntas, enquanto os de alto risco mantêm um perfil discreto?

  • A equipe deve se dividir, se alguns aspectos do trabalho puderem ser realizados sem envolver os membros de alto risco?

  • Existe alguém no grupo consultivo que trabalhou na área antes e pode ajudar a equipe com dicas?

  • Qual é o protocolo de segurança da equipe? Os membros discutiram um plano de saída (em caso de debandada/agressão física/um membro da equipe sofrer um acidente, etc.)? É mais seguro deslocar-se com um veículo fixo e um motorista, ou mudar de veículos frequentemente? Se a visita for para um lugar lotado, sem vaga de estacionamento próximo, será mais rápido sair por qualquer outro transporte mais próximo, se houver? Existe uma pessoa/organização local que pode ser chamada em caso de emergência? Todos têm guardados os números para os serviços de emergência, embaixadas e hotéis? Existem pessoas (pessoais/profissionais) «da casa» quem tem todos esses números (e detalhes do voo/trem/ônibus do equipe) e estão instruidos a usá-los para descobrir informações sobre o paradeiro da equipe, se eles não souberem dos membros por um determinado período de tempo (decidido antecipadamente)? As pessoas estão cientes das regras de trânsito locais se estiverem dirigindo, ou quando estiverem andando como pedestres? Qual é a pergunta e resposta de segurança (uma pergunta inócua feita por telefone ou mensagem de texto como «como está o tempo aí» com um «ok» significando que está tudo bem e «está quente» significando que a situação não é segura, e assim por diante)?

  • Qual deve ser o fator decisório na hora de escolher um lugar para ficar? Um lugar situado na cidade será mais seguro por causa da multidão ao redor, e acesso para ajudar, se necessário? Ou um lugar mais fora da cidade atende melhor as necessidades da equipe, se a ideia é ser mais discreto? Se houver uma equipe de quatro, com dois membros de alto risco e dois membros de baixo risco, eles devem ficar separados em razão da avaliação de segurança, e manter contato virtualmente, ajudando a limitar a vigilância se um local está mais «no radar» do que outro? Que considerações culturais devem ser levadas em conta? Será melhor para pessoas do mesmo sexo ficarem em um mesmo local de hospedagem? Ou grupos mistos parecidos com famílias, amigos, ou colegas de escritório, recebem menos escrutínio?

  • Qual é a avaliação de segurança das pessoas locais que ajudam a equipe e os entrevistados, e como você pode priorizar a segurança deles?

  • Se a equipe vai tirar fotos, é seguro usar uma câmera ou melhor deixá-la no hotel, optando por câmeras de telefone?

  • Como o material será armazenado e como será feito backup com segurança, todos os dias?

  • Quando a equipe se depara com perguntas sobre quem são e o que estão fazendo, qual é a resposta comum que a equipe decidiu? Existem riscos decorrentes do trabalho individual ou coletivo dos membros da equipe estar disponível online? Como a equipe tem se preparado para lidar com dúvidas e suspeitas relacionadas?

  • Todos têm seguro saúde e os detalhes de sua apólice? Há informações de saúde (alergias, tipos sanguíneos, doenças ou condições de saúde, etc.) em um documento compartilhado que pode ser consultado por profissionais médicos se surgirem emergências relacionadas à saúde?

  • Algum local requer equipamento de proteção individual?

  • Existe algum problema legal envolvido na visita a um local, ou no transporte de dados para fora de um lugar? A equipe tem um consultor jurídico, no grupo de conselheiros, que poderia ajudar com tais avaliações específicas para aquela região?

  • Que documentos de identidade os membros da equipe levarão?

  • Se a viagem for para outro país, a equipe já verificou dicas e informações sobre este país com a autoridade de Relações Exteriores do seu próprio país?

  • A equipe considerou outros riscos além daqueles diretamente relacionados a a investigação, como pequenos furtos que podem levar à perda de dinheiro, documentos, etc., e estão preparados de acordo (carregando quantidades limitadas de dinheiro, decidindo se seria mais seguro deixar um documento no hotel, etc.)?

  • Em caso de estresse extremo/eventos traumáticos, a equipe pode apoiar uns aos outros? Eles estão conectados a profissionais de saúde mental para quem eles podem ligar nessas horas? (Ao cobrir histórias relacionadas a traumas, você deve discutir com seus financiadores se haverá orçamento para serviços de saúde mental, se necessário.)

Se esta lista servir de indicação, há muitas perguntas a fazer quando considerar viajar em equipe. Mas essas perguntas são todas necessárias para manter você e seus colaboradores seguros e eficientes quando estiverem realizando a investigação. Uma vez que você tenha modelos prontos para uma investigação, você pode continuar usando, modificando-os à medida que você ganha experiência em investigações colaborativas (e esperançosamente compartilhando essas sugestões conosco para que possamos adicionar a este guia!).

Viajando

Nem todos os projetos vêm com um orçamento que permite que os membros da equipe viajem e investiguem juntos. Mas, se houver dinheiro para cobrir o custo de viagem e acomodação, há razões de sobra para fazê-lo.

Conhecer sua equipe cara a cara é insubstituível. Não há nada como isso para fortalecer equipes. Oferece apoio aos demais investigadores e, às vezes, reduz o risco de segurança que um membro pode assumir quando investiga sozinho. Quando os entrevistados vêem que existe uma equipe, ou que pessoas de mais de um lugar estão envolvidas na investigação, e que isso será publicado em vários lugares, às vezes eles reagem melhor e dedicam mais tempo porque eles sentem que o que eles têm a dizer vai alcançar mais pessoas.

Ao mesmo tempo, a presença de um «estrangeiro» pode levantar suspeitas, para alguns. Assim, consulte o investigador residente para saber se existe alguma entrevista, ou encontro, que os outros membros da equipe devem evitar ir, e onde esses outros membros devem esperar enquanto isso, mantendo um perfil discreto, deixando o investigador local assumir a liderança da entrevista.


Dica:

Para ler mais sobre como se preparar e agir ao ir para um lugar estrangeiro ou possivelmente hostil, verifique o Guia de entrevistas e o ** Guia de campo** deste Kit.

Cruzando fronteiras

Fronteiras podem ser locais de trânsito complicado onde você não tem a zona de conforto do seu local habitual e ainda não recebeu o apoio de sua equipe em território estrangeiro. Você está por sua conta. Seja paciente, calmo e cooperativo em todos os momentos. Pode haver vários pontos de verificação para passar, e você pode ser questionado por uma parada de rotina ou um bate-papo informal. Às vezes, as barreiras linguísticas podem levar à falta de comunicação. Mas, se sua linguagem corporal permanecer relaxada e você mantiver uma atitude sincera, demonstrando a intenção de entender e cooperar, você corre um risco menor de dar a impressão do «estrangeiro suspeito».

Se você estiver indo como profissional de imprensa, esteja preparado para responder sobre o que ser a reportagem. Novamente, discuta com o contato local e a equipe antecipadamente. Você pode dar uma resposta geral, sem detalhes. Alguns países exigem que você obtenha uma permissão/credenciamento de mídia dentro de alguns dias após a chegada. Não esqueça de fazer isso por estar muito envolvido na investigação, ou pode ter um problema quando você voltar. Algumas dessas informações não estão claramente disponíveis online e, embora seus colaboradores locais possam descobrir como fazer, se é a primeira vez deles, pode ser que percam alguns detalhes do processo. Se acontecer de você não conseguir a autorização e isto for apontado a você, ao entrar ou sair do país, aceite o erro e esteja disposto a pagar a multa (utilizando o fundo de contigência que deve estar disponível em seu orçamento). Não é incomum que, ao perceber que o passageiro tem uma postura cooperativa e cometeu um erro honesto, a multa seja dispensada,a critério dos oficiais.

Você pode ser levado a vários recintos, e pode ser entrevistado por uma série de funcionários. Ajuda se você aparentar ser uma pessoa segura que seguiu corretamente todo o procedimento de viagem e visto, preencheu corretamente os campos de formulários, tem todos os papéis e tem sido paciente e honesto. Então, um erro provavelmente será entendido como o que é, uma aberração, ao invés de um padrão. É por isso que, quando você está checando as regras de visto e não tem certeza se algum documento é eecessário ou não, é melhor ter aquele pedaço extra de papel, em vez de não ter. Por exemplo, se o visto for concedido na chegada e a taxa de visto puder ser paga tanto na hora, quanto online, pode ser mais seguro já pagar online.

Já que estamos falando aqui, especialmente, no contexto de colaboração, é importante notar que um indivíduo trabalhando por conta própria pode ter sua própria maneira de fazer as coisas. Por exemplo, eles podem não entender por que o credenciamento de mídia é necessário no país de destino, se já têm uma credencial de imprensa do seu país de origem. Um indivíduo pode querer discutir o ponto. Mas é difícil construir um argumento forte sem conhecer perfeitamente as leis locais. E se um debate acalorado leva os funcionários a ligar para o seu parceiro no país, atraindo uma atenção indesejada, pode não ser uma boa coisa para a investigação e para o membro da equipe local que tem que continuar vivendo lá, depois que a equipe sair. Em equipe, tomar decisões isoladamente poderia colocar todos em perigo.

Hospedagem

Descobrir onde ficar durante a investigação é algo que deve ser feito conversando com a pessoa que conhece o local. Um turista talvez olhe apenas para o custo de um quarto e as comodidades oferecidas. Mas investigadores precisam decidir se devem permanecer na cidade para ter melhor acesso aos entrevistados e lugares, ou se eles gostariam de ficar na periferia para evitar se destacar demais e serem notados por muitas pessoas. Se o plano inclui sentar juntos no hotel e pesquisar/escrever/trabalhar ideias com frequência, verifique se o o hotel tem geradores de energia de emergência, e uma sala de conferência silenciosa.

Equilibrar suas necessidades pessoais com as prioridades coletivas da equipe

É melhor carregar coisas como produtos de higiene pessoal, em vez de assumir que hotel ou mesmo lojas próximas terão. Esses itens não ocupam um muito espaço ou peso, e o ideal é que, quando a equipe chegar, todos estejam prontos para mergulhar no trabalho no mais curto espaço de tempo disponível, em vez de ter que procurar um xampu ou um cereal que vivem sem. Se você deixa alguma coisa para trás e não consegue encontrá-la rápida e silenciosamente durante as pausas da equipe, ou períodos de descanso, tente passar sem, a menos que seja algo crucial como remédios. Não fique exclamando sobre como você está surpreso que um item «básico» não esteja disponível, estressando o membro local da equipe que está se esforçando para fazer você se sentir em casa. Ele não é seu planejador de férias ou seu guia turístico. Ele já está lidando com trabalho extra por ser o «anfitrião» devido ao seu conhecimento local. A menos que uma investigação no local vá correr no local de cada membro da equipe, você pode não ter a chance de retribuir o favor. Adapte-se, adapte-se, adapte-se.

Plano de fuga

Apesar de todas as suas precauções de segurança, às vezes você pode se encontrar em um cenário inesperado e inseguro. Um plano de fuga é um método que você esboça de antemão para ajudar você a sair dessas situações e voltar para segurança. Nenhuma investigação vale a sua vida. Claro, idealmente você gostaria de proteger sua investigação e seu bem-estar. Mas seu plano de fuga também deve considerar o caso em que proteger a investigação não seja possível. Seu plano deve incluir uma estratégia que priorize as vidas e a segurança de sua equipe acima de tudo. Se você pode sair de um situação ameaçadora desistindo da evidência que você coletou no local, você deve fazê-lo.

Antes de ir para a visita ao local, tenha um plano de fuga acordado de antemão. Novamente, o investigador local pode aconselhar sobre isso (pode ser um ativista, um jornalista, um guia, ou uma autoridade local levando você a um lugar). Eles podem trazer vantagem por estarem familiarizados com a língua local. Uma vez acordado o plano de fuga, cada membro pode repeti-lo para a equipe, então é confirmado que todos entenderam a mesma coisa. Uma situação tensa e urgente não lhe permite o luxo de ir para um canto e sussurar uma estratégia de saída na hora. Se a situação for um pouco diferente daquela para a qual se preparou, aguarde alguns instantes para que o membro local improvise. Se parecer que eles estão travados, qualquer membro da equipe pode liderar com algo próximo do plano traçado. É por isso que é crucial gastar tempo suficiente juntos, antes de embarcar na investigação, para que a equipe desenvolva laços de confiança.

No teatro existe um exercício chamado «queda de confiança» onde o grupo, em um círculo, se dá as mãos e uma pessoa começa a se inclinar para trás, levando o grupo com ela. Os corpos das pessoas ficam tensos, pois elas temem cair. Mas elas seguem o fluxo, confiando que o grupo vai sintonizar os corpos uns dos outros tão bem, que as pessoas à sua esquerda e direita irão segurá-los com tanta força, que eles apenas se inclinarão para trás até o ponto em que não chegam a cair. Esse é o nível ideal de confiança a ser cultivado entre uma equipe de colaboradores.

No «trabalho»

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Comunicação regular

Isso não pode ser enfatizado o suficiente. Mantenham-se em contato, mesmo que não tenha havido nenhum grande desenvolvimento na frente de trabalho. É sempre melhor compartilhar atualizações você mesmo. Ninguém gosta de ser o policial mau que fica pedindo relatórios de status ou enviando lembretes.

Converse regularmente. Se decisões forem tomadas em reuniões, coloque-as no papel por escrito e compartilhe o documento com as atas. Documentos compartilhados online podem ser atualizados a qualquer momento, mas quando você está marcando um horário para conversar, esteja atento aos fusos horários. Signal e Wire são exemplos de aplicativos mais seguros que os investigadores usam para se comunicar, em comparação com algo como WhatsApp ou telefonemas comuns. Tente também usar um e-mail mais seguro em serviços como riseup.net ou ProtonMail.

Linha do tempo

Um grande projeto pode levar meses, até anos, para ser concluído, e o entusiasmo no início de um projeto começa a diminuir com o tempo. Outros projetos podem começar a exigir a atenção dos membros da equipe. Se as coisas ficarem estagnadas, tente reacender o senso de comunidade encontrando maneiras de conectar uns com os outros. Continue lendo sobre o assunto que você está nnvestigando e compartilhando links e notas com outras pessoas.

Entrevistas

Se você está pedindo aos membros da equipe para entrevistar uma fonte, sozinhos ou com você, certifique-se de informá-los adequadamente. Deixe-os saber o que faz a fonte falar e quais «gatilhos» devem ser evitados. Desta forma você vai conseguir a quantidade máxima de informações e você não perderá a confiança com sua fonte. Em alguns casos, pode ser útil que o seu parceiro faça perguntas que você não quer fazer, por causa do seu relacionamento antigo com a fonte, perguntas que podem não ser bem-vindas de sua parte, mas podem ser permitidas, se feitas por um investigador novo ou estrangeiro.

Se uma pessoa vai fazer perguntas que provavelmente deixarão o entrevistado ameaçado ou agressivo, tente realizar tais entrevistas em locais públicos, como cafés, com outro parceiro por perto, a uma distância segura. Para mais informações sobre entrevistas e fontes, veja Entrevistas: o Elemento humano de sua investigação e Como gerenciar suas fontes.

Compartilhamento de recursos e informações sobre o projeto

À medida que o projeto se desenvolve, haverá atualizações para compartilhar, detalhes de fontes para adicionar e novas questões para analisar. Escolha plataformas que são digitalmente seguras,fáceis de navegar para compartilhar esses itens. (E não guarde as informações para você! Colaborações não são competições.) Escolha os aplicativos sobre os quais há consenso. Se alguém é novo em uma plataforma, ajude-o até que ele se acostume.

E lembre-se, o compartilhamento não se limita apenas ao projeto em questão! As colaborações mais bem-sucedidas e duradouras são baseadas na camaradagem e solidariedade. Quando não estiver trabalhando, conversem um com o outro sobre outros projetos e interesses. Se você tem idéias, contatos ou informações sobre recursos que podem ajudá-los a progredir na carreira, compartilhe generosamente.

Compartilhamento de mídia social

Muitos investigadores compartilham pequenas revelações ou «teasers» nas redes sociais durante uma investigação. Se você é alguém que faz isso, discuta primeiro com a equipe. Todos estão confortáveis com estes trechos de trabalho em andamento sendo divulgados? É realmente seguro para as pessoas envolvidas? Isto irá criar dificuldades para o resto da investigação? Uma tendência comum, e aparentemente inócua, é os viajantes compartilharem, nas redes, fotos de seus cartões de embarque. Nas investigações, isso pode significar alertar as pessoas erradas sobre sua viagem, e os detalhes e código de barras na passagem podem facilmente facilitar roubo de identidade.

Se pretende tirar e compartilhar fotografias não diretamente relacionadas com o investigação, mas que mostram os membros da equipe, consulte todos primeiro. Eles podem não querer suas fotos nas mídias sociais por motivos pessoais. Além disso, uma fotografia aparentemente inócua também pode levantar questões como: «por que esse grupo de pessoas está andando junto?»

Há também a questão da segurança das fontes e dos entrevistados, quando você compartilha suas características. Ou, se você compartilhar as declarações deles antes da investigação terminar, você pode estar colocando-os em risco.

Metodologia de documentação

Um grupo de investigadores, cada um com um conjunto único de habilidades, trabalhando juntos, não é algo corriqueiro. A sua metodologia de investigação provavelmente será uma leitura tão excitante quanto a própria investigação. Também conquista a credibilidade do público. Aloque tempo em sua agenda para documentar o processo, periodicamente.

Check-ins

Nossas vidas pessoais e profissionais estão constantemente se sobrepondo, com trabalho remoto e plataformas de mídia social que têm nossas fotografias de férias ao lado do link para a amostra mais recente de nossos trabalhos. Você pode estar trabalhando fora, e seu celular pode receber uma mensagem levemente preocupada, de casa. Em vez de fingir que as vidas das pessoas existem em compartimentos estanques, considere um tempo e um lugar seguros para fazer check-ins regularmente.

Não se trata de cumprir uma formalidade ou pedir às pessoas que compartilhem algo pessoal que eles não querem. Uma preocupação genuína com o bem-estar da equipe pode significar simplesmente perguntar por eles, estar aberto para ouvir, oferecer todo o apoio que puder e compartilhar notas sobre autocuidado. Conhecer a vida e as lutas uns dos outros ajuda a gerar empatia. Pode ajudar a promover um sentimento de lealdade, pertencimento e compromisso dentro da equipe.

Reconhecendo o trabalho e as contribuições das pessoas

No trabalho em equipe, às vezes, as contribuições e os esforços individuais se perdem. Reserve um momento para apreciar, parabenizar e celebrar as pessoas quando elas fazem contribuições que levem a equipe um passo mais perto de um sucesso na investigação. Ser específico com seus elogios é uma boa maneira de deixar o destinatário do elogio saber que você é sincero. Agradeça ao colega que sempre verifica com todos estão, nomeie a pessoa que conseguiu manter todas as informações coletadas organizadas em um lugar, e assim por diante.

Ser sensível à diversidade cultural

Seja respeitoso com as várias origens, raças, faixas etárias, gêneros, nacionalidades, religiões, idiomas, histórias e sexualidades que os membros da equipe têm. Tente aprender um pouco sobre suas culturas antes de começar a trabalhar com eles. E lembre-se, não é a função deles explicar as coisas para você, ou te ensinar o básico.

Isso é válido para o seu relacionamento com os membros da equipe e também com qualquer outra pessoa com quem você possa estar colaborando durante sua projeto. É importante estar sempre atento à sua posição em relação a outros grupos com os quais você está trabalhando. Se você considera viajar e interagir com comunidades, por exemplo, você como visitante, pode desfrutar de mais ou menos liberdade do que o anfitrião. Mais liberdade pode criar mais espaço para suas ações como investigador(es), mas pode pôr em perigo e expor seus anfitriões, e vice-versa - ninguém a neutro ou invisível. O risco é herdado.

Continuidade da colaboração

Publicar os resultados de uma investigação colaborativa é motivo de festa para toda a equipe. Mas algumas vezes também pode parecer anticlimático. Nem todas as investigações chegam ao domínio público com sucesso. Alguns materiais profundos e excelentes demoram um pouco antes que as pessoas possam processar e absorver tudo. O impacto pode levar meses ou pode acontecer de maneiras indiretas que a equipe pode não ver imediatamente. Não deixe seu espírito de equipe e a satisfação de um trabalho bem feito ser ofuscada por esses fatores. Não há nada de errado com «fogo lento».

Após as merecidas comemorações e o merecido descanso, você pode tomar um passo adiante na colaboração, listando, especificamente, lugares e pessoas com que vocês gostariam de compartilhar as descobertas. A internet é aepleta de novas informações e investigações todos os dias, então pode ser que nem todos os seus grupos de público-alvo tenham visto a investigação. Além disso, pense em abordagens inovadoras para levá-la às pessoas: uma apresentação em sua comunidade, uma performance artística local, uma encenação política, uma publicação que queira traduzir e distribuir os resultados em outro idioma, as possibilidades são infinitas.

Ao compartilhar publicamente, dê crédito e reconheça todos os que contribuíram para o trabalho, seja como investigador ativo, ou não, (exceto aqueles que pedirem anonimato). Compartilhe suas descobertas com aqueles que também poderiam dar feedback construtivo, começando com todos os seus conselheiros e apoiadores.

Certifique-se de que todos sejam pagos em dia. Não só é frustrante para um membro da equipe continuar enviando lembretes sobre o pagamento que têm direito, mas também desrespeitoso para com eles. Pagamentos atrasados podem afetar adversamente a situação financeira de uma pessoa. Muitos optam por não voltar a trabalhar com quem vive atrasando os pagamentos.

Realizar uma investigação colaborativa bem-sucedida não é pouca coisa, mas as recompensas correspondem aos desafios. A relação entre os membros da equipe que se unem para resistir a crises de todos os tamanhos é algo que pode durar a vida toda. Com esse nível de confiança e conforto testado e comprovado, você pode pensar em investigações de acompanhamento ou lançar novas. O trabalho de acompanhamento também ajuda a fortalecer o impacto ao longo do tempo, então guarde todas as suas anotações e transcrições com segurança e cuidado. Uma equipe eficiente com uma investigação bem-sucedida também tem mais chances de obter financiamento no futuro.

Pode parecer fácil e descomplicado trabalhar sozinho. Mas numa sociedade cada vez mais polarizada, investigações colaborativas cultivam conexões, nos fazem sentir empatia com os problemas de diferentes regiões e grupos de pessoas, e nos incentivam a procurar semelhanças uns nos outros, em vez de diferenças. Fora de nossos problemas compartilhados, encontramos soluções comuns.


Reconhecimento:

Este guia não teria sido possível sem reuniões, colaborações, apoio e feedback de muitos pares no campo da pesquisa e investigação. Muitas pessoas contribuíram com sua experiência, conhecimento e bondade. Obrigado a: Manuel Beltran, Xavier Coadic, Wael Eskandar, Felix Farachala Valle, Coco Gubbels, Alison Killing, Tyler McBrien, Beatriz Quesadas, Laura Ranca, Nuria Teson, Marek Tuszynski.


Publicado em 15 de junho de 2021
Traduzido para português em julho de 2023

Recursos

Observação: muitos dos recursos abaixo são direcionados a jornalistas, mas a maioria das dicas e conselhos podem ser igualmente relevantes para investigadores que não são jornalistas.

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