Do que é feita uma investigação

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Resumindo: Um olhar sobre os elementos mais importantes de uma investigação: o que constitui uma boa evidência, como desenvolver um processo de documentação sólido, o valor da verificação, e a chave para um começo seguro.

Construindo evidências sólidas

Ao longo deste kit, usaremos o significado genérico de evidência: informações que são relevantes para a questão, problema, pessoa ou processo você está investigando. Existem definições legais de evidência que podem ser muito mais estritos, mas esse significado genérico serve a investigações diversas.

A evidência fornece a confirmação de uma afirmação ou suposição. Istz u a prova de que algo aconteceu, ou de que algo não aconteceu. Interpretar e atribuir significado às informações que você coleta produz um corpo de evidências. É importante ter em mente que nem todas as peças de informação são, ou podem se transformar em evidências.

Uma investigação é um processo de coleta organizada de evidências, que procura estar o mais próximo possível da verdade. O passado deixa para trás resíduos: poeira, pegadas, documentos, vídeos, gravações de áudio, testemunhas, cheiros, papelada, a presença ou ausência de algo que estava ou não estava lá antes. Coletar evidências significa encontrar e verificar esses vestígios. Embora seja impossível recriar a história, essas vestígios de eventos, relacionamentos, transações ou lugares podem funcionar para provar que uma história é baseada na realidade.

Se você pensar em sua investigação como um quebra-cabeça, cada link ou conexão leva você um pouco mais perto de ver a imagem maior. Conforme você conecta mais peças, a imagem começa a ficar mais clara. Não importa quanta informação você colete, você sempre tem algo que não tinha no início: uma estrutura mais clara para pesquisar, um esboço de um imagem ou mapa, uma nova fonte de informação, ou mesmo o ponto de partida para uma nova investigação. Identificar links entre as informações irá aproximá-lo das respostas que procura e das evidências para prová-las.

Quando você coletar evidências boas o suficiente, as informações que você tiver serão bem fundamentadas e mais próximas da verdade. Caso contrário, quaisquer conclusões que voco bentar alcançar estarão incompletas, na melhor das hipóteses, e completamente erradas na pior das hipóteses. Você quer uma base sólida e inabalável.

Sua lista de verificação para boas evidências

Nem todas as evidências são boas ou relevantes. Existem algumas qualidades que distinguem o que é “bom” e útil para sua investigação. A melhor maneira de ter certeza de que você está no caminho certo é testar a força, precisão e integridade de suas informações, e perguntar a si mesmo algumas questões nortedoras.

  • Boas evidências são de primeira mão. Você mesmo testemunhou algo; você tem acesso ao pessoas envolvidas, ou a documentos oficiais sobre isso?

  • Boas evidências podem ser documentadas e preservadas. Você é capaz de mapear o caminho que o levou às evidências, registrou cada etapa do seu processo de pesquisa e salvou-as de forma que outros investigadores podem acessá-las posteriormente, confirmar sua precisão e entendê-las?

  • Boas evidências são oportunas, criadas ou documentadas próximas ao momento em que o evento ocorreu. Passou muito tempo e a evidência se tornou menos rastreável? As gravações ou documentos foram perdidos? Você precisará desenterrar o passado ou encontrar novas informações em outro lugar.

  • Boas evidências podem ser verificadas. Você e outras pessoas podem verificar e confirmar se o que você tem é real e preciso?

  • Boas evidências têm origens que podem ser confirmadas por terceiros, além de você e sua fonte. Você é o único que tem acesso à fonte de informação e o único que pode dizer que é real? Nesse caso, isso pode se tornar uma fraqueza se alguém contestar suas evidências ou alegar que você está inventando. No entanto, se você estiver lidando com uma fonte vulnerável, mantê-la em segredo pode ser a única opção viável para você e para ela.

  • Uma boa evidência contém informações que podem ser confirmadas por terceiros. Existe alguém ou alguma outra coisa que possa apoiar suas alegações e evidências? Um especialista, outra testemunha, uma organização que faz pesquisas sobre o assunto, um documento oficial. Quanto mais melhor.

  • Boas evidências podem ser compartilhadas com outras pessoas. Você pode mostrar essas evidências para apoiar seus argumentos e reivindicações, ou elas são confidenciais e, portanto, não devem ser divulgadas? Se for esse o caso, você pode precisar de outras maneiras de provar aos outros que o que está dizendo é verdade.

  • Boas evidências têm uma cadeia de custódia documentada e ininterrupta. Você registrou todas as etapas do seu processo de pesquisa? Você salvou todas as descobertas com detalhes exatos da fonte, datas, horários e locais onde encontrou as informações? Você salvou todas as informações com segurança e garantiu que nunca saíssem de suas mãos, não fossem adulteradas e que você sempre pudesse rastrear tudo de volta à sua fonte original?

  • Boas evidências estão intactas e protegidas contra adulteração. Você pode garantir que ninguém indesejado tenha acesso a elas e possa modificá-las de alguma forma?

  • Uma boa evidência inclui metadados, como informações sobre seu autor, local, hora. Você pode dizer com segurança que uma foto, ou um vídeo, foi feito onde a fonte afirma que foi, quando ela afirma que foi, e que mostra o que afirma que mostra? Se você mesmo coletou as evidências e gravou as imagens, pode provar sua autenticidade preservando seus metadados? Quaisquer metadados perdidos podem ser uma fraqueza para sua evidência mais tarde. Certifique-se de mantê-los seguros.

  • Boas evidências se conectam a outras evidências e vinculam as informações. Você pode conectar suas evidências com outras informações, e descobertas de mais fontes para apoiar seu argumento, ou criar uma narrativa mais forte sobre os problemas que está investigando?

  • Boas evidências irão direcioná-lo para lugares onde suas informações são fracas ou incompletas. Elas geram mais perguntas, mostram lacunas de informações e novas maneiras de buscar evidências adicionais? Isso é bom, pois ajudará você a obter um panorama melhor do problema e, por fim, a construir um argumento mais forte.

  • Boas evidências não expõem fontes humanas a riscos que o investigador não pode controlar. Alguém poderia vincular direta ou indiretamente sua evidência a uma fonte vulnerável que, se exposta, pode estar em perigo? Se sim, você pode reduzir esses riscos de alguma forma para proteger essa fonte? Existe alguma maneira de encontrar outras evidências que apoiem sua narrativa, mas não exponham a fonte potencialmente vulnerável? Caso contrário, você pode precisar reconsiderar o uso dessa evidência e colocar a segurança de suas fontes e de si mesmo em primeiro lugar.

  • Boas evidências podem desafiar suas ideias preconcebidas ou até mesmo contradizer o que você acha que é verdade. Isso mostra que suas expectativas ou argumentos não são válidos? Isso faz você ver um problema de uma perspectiva diferente ou até mesmo mudar totalmente de ideia sobre um problema? Você acreditou em uma fonte, mas acabou duvidando depois de analisar mais evidências de outras fontes? Isso é bom e, ao admiti-lo e aceitá-lo, você se torna um investigador melhor, mais imparcial e, portanto, mais confiável.

  • Boas evidências falam por si. Você pode simplesmente mostrar o que tem e ter certeza de que as pessoas entenderão as informações e seu significado? Ou você ainda precisa construir uma imagem maior ou uma narrativa para impulsioná-la?

Nem todas as evidências que você vai descobrir vão atender a todas essas condições. Isso é de se esperar. Mas, algumas das evidências irão atender a várias delas– essas são as que você pode querer priorizar.

Sem documentação, nada acontece

Coletar evidências, seguir pistas, entrevistar, modelar, mapear, planejar. Isso,e todo o pensamento que forma sua investigação será mais etil para você – e mais favorável para suas conclusões – se vocs eocumentar o processo. Isso significa acompanhar cada passo que você dá; cada pedaço de informação e evidência que você coleta, com detalhes como o qus e, onde, quando, por que, e como foi coletado; preservando esses dados em sua forma e características iniciais, e muito mais.

O principal objetivo da documentação é criar um registro verificável de sua investigação. Vamos chamá-lo de “higiene investigativa”- a manutenção regular de certas práticas para garantir que sua investigação seja saudável e possa resistir ao escrutínio e à crítica, se alguém tentar descartar suas evidências.

Seu registro é tanto para você quanto para os outros. Acompanhar seus próprios passos o tornarão mais eficaz como investigador e menos propenso a lutar com erros comuns ao começar. Conforme vocr srogride, a documentação pode ajudá-lo a se lembrar de conclusões anteriores, como vocr sbteve pistas, ou evidências que pareciam inúteis antes, mas agora parecem importantes. Você também pode encontrar coisas que esqueceu de acompanhar, ou problemas para os quais você queira pedir a ajuda de outra pessoa.

Ser capaz de afirmar com confiança por que buscou uma fonte em vez de outra, torna você um recurso muito mais valioso e confiável. Seus hábitos de documentação são importantes, se você pretende publicar suas descobertas, se você for falar com a polícia, se você levar com um caso ao tribunal, ou oferecer o seu testemunho a defensores dos direitos humanos que representam casos de crime e abuso. Além disso, caso problemas pessoais ou profissionais, ou mudanças nas condições sociopolíticas, interromperem seu trabalho, sers hais fácil para outra pessoa interpretá-lo e assumir o resto da investigação, ou usar as evidências que você conseguiu descobrir. Esses hábitos também são úteis se você colaborar com outros parceiros.

Embora a documentação seja importante, também existem fatores de risco. Seu registros de investigação podem beneficiar potenciais adversários - por exemplo, alguém determinado a impedi-lo de descobrir seus erros - se a informação cai em mãos erradas.

É crucial que você avalie quaisquer riscos potenciais no início e durante sua investigação. Você precisa levar em consideração a sua segurança e a das seus fontes a sério, bem como manter provas e documentação em segurança, usando armazenamento e dispositivos criptografados para protegê-las contra acesso indesejado.

Certifique-se, sempre, de se informar sobre salvaguardas digitais e físicas básicas de segurança,e de aprender sobre ferramentas e habilidades que você pode precisar para ficar seguro e manter seus dados armazenados com segurança. Vamos abordar tais problemas através do Kit, mas você também pode começar a verificar recursos online como Tactical Tech”s Security in a Box (em inglês) ou esta Lista de Segurança. Ao trabalhar em situações ou ambientes particularmente complexos, procure pessoas confiáveis para aconselhá-lo, ou procure treinamentos de segurança que você possa fazer, se achar que qualquer uma das investigações que realiza possa representar o menor risco.

Dicas para uma documentação completa

  • Faça anotações detalhadas da entrevista

Se você estiver entrevistando fontes ou se reunindo com outros investigadores, faça sempre anotações. Registre a data, horário de início e término, local e nomes dos participantes. Observe o que foi discutido e se as mesmas pessoas pode realizar uma reunião de acompanhamento (“Pessoa X e eu decidimos que falaríamos novamente por telefone na quinta-feira às 14:00”). Você pode fazer anotações à mão ou digitá-los em um dispositivo ou ambos, contanto que você possa mantê-los seguros. A gravação de áudio também é uma boa maneira de acompanhar as conversas, mas obtenha a permissão dos outros para gravar primeiro. Cuidado ao expor identidades das pessoas, especialmente ao entrevistar e gravar fontes vulneráveis. A segurança de todos deve ser sempre a sua maior prioridade.

Os investigadores costumam usar gravações ocultas para ajudar a expor informações importantes, mas optamos por não abordá-las neste kit devido às controvérsias relativas a limitações legais em alguns lugares e, mais importante, aos riscos de segurança associados a elas.

  • Registre as informações de contato

Se você estiver criando uma lista de contatos, inclua não apenas seus nomes e informações de contato, mas também como você os conheceu, cada vez que vocês se falaram e um resumo das informações que eles ofereceram a você. Se você tem uma lista de empresas, números de telefone, ou endereços de e-mail para pesquisa, por exemplo, certifique-se de anotar onde você encontrou pela primeira vez o nome da empresa, número de telefone, ou e-mail. Se você tem informações sensíveis e fontes vulneráveis e em risco, dê a elas um pseudônimo em todas suas notas e documentos de trabalho, online e offline.

  • Grave seu processo

Mantenha um registro das etapas investigativas que você realizou e de seus resultados, com datas e detalhes de cada ferramenta e técnica envolvida na coleta de evidências. Por exemplo, você pode registrar: “Em 3 de janeiro de 2018, eu e meu parceiro de pesquisa capturamos imagens de satélite usando o Google Earth e documentamos a localização dos canteiros de obras da empresa” ou “Em 14 março de 2018, tentei ligar para diferentes números de telefone públicos, associados com a empresa, para ver se eu conseguia registros, mas a ligação foi encaminhada para o correio de voz. Conforme você avança em sua pesquisa, especialmente com investigações, isso o ajudará a lembrar das etapas anteriores, você poderm decordar tentativas fracassadas de encontrar certos dados, ou informações que você já tem e não deve duplicar.

  • Faça um esboço

À medida que você coleta mais e mais informações, é útil criar um esboço esboço narrativo do que você descobriu até agora. isso vai servir como um registro de diferentes etapas da investigação, e irá ajudá-lo a ver quais informações podem estar faltando, se há novas direções que voco erecisa considerar, e se certas informações devem ser verificadas ou refinadas. Além disso, a criação de mapas visuais de seus dados e processos, podem ajudá-lo a ver as coisas sob uma nova luz.

  • Proteja suas evidências

Você deve criar um registro físico e digital de todas as evidências. Inclua datas, origens, local de armazenamento e informações de segurança. Seu log também deve incluir uma descrição do status da evidência, quem coletou e quem interagiu com ela. Mantenha tudo isso seguro e, de preferência, não todas em um só lugar, para evitar perdas ou danos totais.

Se não for verificado, não é válido

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Sua cidade tem um problema de esgoto de uma década, mas o prefeito afirma que tem uma varinha mágica que pode consertá-lo, se você votar nele outra vez? O país vizinho está enviando tropas em sua direção para assumir o controle da vnico recurso de água limpa que resta na região? Claro, qualquer coisa a vossível, e pode até haver dados disponíveis para provar isso. Mas não se for verificado, não é válido.

A verificação é cada vez mais importante, pois a qualidade e confiabilidade das informações disponíveis hoje está sendo desafiada de várias maneiras – desde criadores de «notícias falsas» e desinformação, até usuários de mídia social mal informados que espalham notícias sem verificar as fontes primeiro.

Por exemplo, durante a eleição queniana em 2017, tweets falsos que pareciam ser da BBC ou histórias da CNN circularam com a intenção de deturpar a situação política. Na Índia,informações falsas amplamente divulgadas, sobre supostos criminosos, levou pessoas a serem mortas ou espancadas no ruas.

Quaisquer que sejam os objetivos de sua investigação, é importante ser capaz de defender como chegou às informações que está apresentando como prova. Se é provado que algo em sua investigação não é verdade, isso prejudica sua pesquisa e qualquer narrativa ou conclusão que você apresentar.

A maioria das técnicas de investigação neste kit pode ser usada para descobrir evidências, bem como para verificá-las.

Existem diferentes níveis de evidência durante uma investigação. Qualquer que seja o caminho que você siga, estará sempre tentando chegar mais perto de evidências de primeira mão, através de técnicas como a verificação. Aqui estão alguns exemplos de fontes de informação que você pode precisar abordar e verificar ao longo de suas investigações.

  • Boca a boca. Um vizinho ouviu que membros de um grupo minoritário em sua comunidade estão tendo serviços negados por uma autoridade local. Isso soa mais como um boato por enquanto, então você precisará se aproximar dos fatos.

  • Declarações de especialistas. Um pesquisador que rastreou esse tipo de negação de serviço a grupos minoritários diz que é frequente. Uma declaração de especialista é uma boa maneira de começar a validar as informações que você possui, mas você ainda precisa coletar algumas informações em primeira mão ou encontrar mais fontes afirmando o mesmo.

  • Relatos de segunda mão. Você fala com pessoas cujo serviço foi negado. Você está se aproximando dos fatos reais, mas qualquer experiência e declaração pessoal precisa ser verificada com outras testemunhas ou documentação existente, se disponível.

  • Documentos ou relatórios de pesquisa. Por exemplo, um relatório de uma ONG confiável descreve esta ocorrência com base em entrevistas com membros da comunidade diretamente envolvidos. Os documentos resultantes da pesquisa o aproximam, mas, assim como nas declarações dos especialistas, você ainda precisa corroborá-los com relatos de testemunhas ou pelo menos outra fonte afirmando o mesmo.

  • Documentos oficiais. Um documento oficial documenta o incidente de negação de serviço. Documentos oficiais assinados e datados são sempre uma prova muito forte, pois você pode identificar a instituição e as pessoas responsáveis por documentar o caso e fazer o acompanhamento com mais perguntas, se necessário. Cuidado com o viés institucional, quando um escritório pode querer ocultar dados em vez de expor a verdade, especialmente se isso os incriminar. Você tem uma boa evidência em suas mãos agora, mas algumas testemunhas ou declarações de especialistas irão torná-la mais forte.

  • Fotos, vídeo, áudio. Existe uma gravação mostrando a ocorrência da situação. Isso pode ser uma evidência preciosa para você. Se as imagens e o áudio forem reais, podem ser relacionados ao local, horário e pessoas envolvidas no ocorrido. Fique atento à manipulação de imagem e som, verificando os dados e metadados EXIF, verifique a fonte, o conteúdo e não os use como evidência sem entrar em contato com os envolvidos para confirmar sua veracidade.

  • Evidência em primeira mão. Você está presente enquanto a situação ocorre e talvez até consiga filmar o incidente. Esta é uma evidência de primeira mão e a mais forte para sua investigação. Você tem a oportunidade e, ao mesmo tempo, a responsabilidade de documentar todo o incidente minuciosamente. Você também deseja estabelecer contato com outras pessoas envolvidas para poder confirmar suas observações e evidências, caso alguém duvide da precisão de sua investigação posteriormente.

Quando verificar

A resposta curta é sempre.

A verificação é um processo repetitivo. Você tem que continuar fazendo isso de novo e mais uma vez. O processo não está relacionado apenas a uma evidência que voce mescobre, mas também como todas as peças se encaixam.

Qualquer nova evidência que você encontrar pode lançar dúvidas razoáveis sobre evidências antigas que você já deve ter verificado. É por isso que documentar suas evidências e vmportante; para que você possa refazer seus passos e verificar novamente e de novo.

Desafios da verificação

Embora esteja no centro do processo investigativo, a verificação tem muitos obstáculos também. É bom considerá-los antes mesmo de começar.

Além de conseguir encontrar outras fontes de informação, suas próprias suposições podem ser um dos maiores desafios a serem superados.

O que quer que você suponha sobre o que aconteceu, preconceitos pessoais afetarão como você manuseia e verifica as informações. Muitas vezes, você pode apenas procurar fontes de informação que confirmam seus preconceitos, em vez de examinar aspectos que possam contradizer suas descobertas.

Suas suposições sobre a credibilidade de suas fontes humanas também podem atrapalhar a verificação adequada, se essas suposições não forem verdadeiras. É essencial não tomar nada como garantido, pois mesmo a mais confiável das fontes, às vezes, pode errar, mesmo que involuntariamente.

Outro desafio é encontrar formas criativas de verificação – estar pronto a usar fontes de informação de maneiras que não foram planejadas. Por exemplo, se você quiser verificar se um funcionário público estava em algum lugar, apesar dele negar isso, você pode querer visitar não só suas contas em mídias sociais, como também as de seus parentes e amigos para encontrar pistas de mensagens, comentários e imagens que possam confirmar ou desmentir isso.

Como verificar

Algo que ajuda é pensar primeiro em quaisquer perguntas ou dúvidas que você tenha sobre as informações que você coletou, bem como sobre suas próprias suposições, e o viés potencial que você ou outros envolvidos possam ter.

O que você sabe com 100% de certeza?

  • Se for uma imagem, você sabe quem tirou? Quando foi tirada? Com que câmera? Em que lugar? Como você sabe que não foi modificado? Alguém poderia tentar enganá-lo ao fornecer esta imagem?

  • Você pode realmente confirmar que os assuntos e eventos mostrados em uma imagem são do dia, hora, local e incidente que você está investigando?

  • A questão é controversa? Existem lados que têm algo a ganhar espalhando essa Informação? Existem grupos que espalham informações falsas esperando que alguém lhes dê atenção sem verificar.

Existem três fases principais de verificação de informações:

  • Verificando a fonte. Onde você obteve a informação e de onde ela se originou.

  • Verificando o conteúdo. Se é exatamente o que afirma ser.

  • Verificando sua relevância. Se ela se encaixa em sua investigação.

Em qualquer investigação, você coletará informações de muitas fontes. Algumas serão óbvias, enquanto outras podem ser menos claras. Você poders feceber um e-mail anônimo, um envelope de documentos, ver um vídeo nas redes sociais, ou encontrar um documento em um site aleatório. Se houver alguma questão sobre a origem dessa informação, é importante verificar de onde ela veio - se foi da fonte original, se foi de alguém confiável, se é verdadeira, ou se pode ter sido fabricada ou adulterada, e se haveria algum motivo para o envio dessa informações para você.

Informações e evidências podem assumir várias formas e aparecer em várias mídias. Imagens, vídeos, som, testemunhos escritos e páginas web são apenas alguns. Para cada meio existem ferramentas, técnicas e truques que ajudam com o processo de verificação, e você encontrará muitos deles explicados neste kit.

Você não precisa aprender tudo sobre cada mídia antes de começar a investigar. Haverá muito para descobrir à medida que avança, e voca iambém será capaz de aprender através da prática. Guias complexos para verificação, escritos por especialistas na área, também estão disponíveis para voca ihecar, se desejar se aprofundar (por exemplo, o Manual de Verificação, ou o Jornalismo, fake news & desinformação: manual para educação e treinamento em jornalismo manual da UNESCO).

Para testar rigorosamente suas evidências e manter seus preconceitos sob controle, você pode documentar o processo de pesquisa e suas descobertas e apresentar a outros investigadores para confirmar se faz sentido para mais alguém.

No entanto, sempre certifique-se de confiar naqueles com quem está compartilhando informações em qualquer fase de uma investigação, e que você - e quaisquer colaboradores – estejam cientes de como se manter digital e fisicamente seguros enquanto se comunicam e compartilham informações. Cada tópico abordado nesse kit contém avisos de segurança úteis, e conselhos para aqueles de vocês que estejam investigando por conta própria ou em colaboração.

Cuidando das suas emoções

Ao longo de uma investigação, você terá que lidar com seus sentimentos, princípios e valores pessoais, além de estabelecer sua metodologia, coletar e verificar informações, construir evidências e assim por diante. Você precisará identificar possíveis vieses e também, tomar cuidado para não se engajar mais do que pode suportar emocionalmente. Estas preocupações são válidas quando se trabalha com qualquer tipo de métodos e recursos, online e em campo, ou com fontes humanas e entrevistados.

Emoções pessoais

Problemas de saúde mental como depressão e transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) geralmente afetam os investigadores que lidam com tópicos difíceis. O estresse cumulativo e a responsabilidade que você tem por suas questões, seus colegas, famíliares, e você mesmo, não devem ser subestimados. É normal sentir-se deprimido e frustrado e buscar o conselho de pesquisadores mais experientes.

Fale e encontre opções de terapia eficazes, se sentir que a investigação está afetando você. Ter experiências ou ouvir sobre traumas, ou investigar corrupção e injustiça, por exemplo, pode exercer muita pressão sobre você. Frequentemente, os investigadores acham que precisam continuar investigando porque as pessoas podem precisar de ajuda imediatamente. Isso pode produzir um senso de responsabilidade e até convencer alguns de que reservar um tempo para dar um passo atrás, e lidar com suas reações, é um luxo que eles simplesmente não podem pagar. Investigadores, ativistas, defensores dos direitos humanos e muitos outros, que lidam diretamente com questões que afetam as pessoas ao seu redor, podem se sentir assim. Esse também é um dos principais fatores que levam os investigadores a continuar seu trabalho, portanto, pode ser algo que também os motiva.

Seu autocuidado, assim como sua segurança, deve vir sempre em primeiro lugar. Se suas capacidades estão diminuindo devido ao seu estado de espírito, isso influenciará sua investigação. Se a qualquer momento você sentir que não consegue lidar, tem todo o direito de fazer uma pausa ou até mesmo abrir mão de algo que esteja prejudicando seu bem-estar. Além disso, mesmo quando você não está sentindo esse tipo de desamparo ou estresse, é bom fazer pausas de vez em quando e conversar com outras pessoas sobre como você se sente. Olhe pelo lado positivo e considere que, mesmo quando suas investigações podem não ser tão bem-sucedidas quanto você deseja, você está sempre tentando.

Viés

Às vezes será difícil deixar de lado suas emoções, sejam elas sentimentos de raiva ou tristeza. Mesmo quando você está com a mentalidade certa, situações como confrontar uma fonte adversária, ou ouvir uma testemunha vulnerável, podem desencadear seus próprios sentimentos. Se isso acontecer durante a entrevista ou em qualquer estágio de sua investigação, você deve ser capaz de se concentrar em seu processo de coleta de evidências e em suas perguntas. Lembre-se que você é um mero destinatário das evidências fornecidas, e tente manter a mente calma e controlada para atingir seus objetivos.

É natural se envolver emocionalmente com uma história, principalmente quando você fala com fontes com as quais simpatiza. Nossos vieses inconscientes nos tornam mais interessados em ouvir algumas histórias e menos interessados em outras. Você deve aceitar que não pode permanecer um observador completamente imparcial. Mas você ainda deve se esforçar para estar atento a seus preconceitos e procurar agir de maneira justa e honesta, tanto quanto possível. Sua investigação pode falhar se você forçar um certo ponto de vista em detrimento de outros, ou negligenciar um contexto importante devido ao seu viés pessoal. Isso também pode prejudicar sua reputação e confiabilidade.

Segurança holística

Não há melhor expressão para ilustrar o que significa estar seguro por fora e seguro por dentro. A segurança holística implica um método e modo de trabalho e de vida que leva em consideração fatores físicos e emocionais. Essa abordagem é promovida e incentivada entre comunidades de alto risco de defensores dos direitos humanos, ativistas de gênero, jornalistas investigativos, organizadores comunitários, investigadores cidadãos e outros. Não se trata apenas de adotar hábitos e medidas de segurança física e digital que se aplicam à sua comunicação, pesquisa, viagens ou relacionamentos. Ele vai além e aborda maneiras de se manter fisicamente e mentalmente consciente e são, cuidar de si mesmo e das pessoas ao seu redor e reservar um tempo para reavaliar a relevância, o impacto e o custo de seu trabalho para você e para os outros. Para começar, recomendamos o Holistic Security Manual (Manual de Segurança Holística) publicado pela Tactical Tech, em inglês, por meio de colaborações de longo prazo com indivíduos e comunidades que pesquisam, trabalham e vivem em situações estressantes.

Comece onde você está

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Quando você está apenas começando a investigar, faz sentido abordar o processo do ponto de entrada mais confortável e seguro.

Se você é o tipo de olheiro da internet que conhece toneladas de mídia social, truques de pesquisa, ou é bom são em pesquisar bancos de dados e indexar informações on-line sobre vários tópicos, comece com isso.

Se o espaço virtual não é o seu forte, comece, talvez, por observar e documentar o que acontece no mundo físico. Tire fotos, faça notas detalhadas sobre eventos e situações, converse com as pessoas e veja se você pode ganhar sua confiança e construir fontes.

Não faz sentido começar sua primeira investigação experimentando com uma maneira completamente nova ou desconfortável de coletar informações. Apenas comece com o que você é bom.

Com a disponibilidade de dispositivos digitais e inúmeras fontes de informação na internet, é possível realizar diversas tarefas de uma investigação atrás de uma mesa. Investigações digitais muitas vezes envolvem pesquisa documental, mas também podem incluir pesquisa offline básica, como ir à biblioteca e arquivos, fazer ligações telefônicas, ou uma combinação de tudo isso.

Investigação digital significa que você está usando ferramentas e mídia digitais para investigar. O assunto de sua investigação pode ser digital, como como um vídeo do YouTube, ou pode ser analógico, como os bens imobiliários de um político.

Bancos de dados acessíveis na internet são uma oportunidade para investigadores descobrirem informações além do método tradicional de vasculhar registros de arquivos físicos. Mais e mais dados podem ser coletados, filtrados, conectados e verificados usando ferramentas digitais. Ainda assim, conduzir investigações por trás de uma tela não é tão seguro e simples como pode parecer à primeira vista.

Existem muitas ameaças digitais às investigações, principalmente se os investigados temem ser rastreados. É por isso que, mesmo quando se ests iealizando pesquisas digitais, existem medidas de segurança importantes que vocs irecisa estar ciente para reduzir os riscos. Você vai ler sobre eles ao longo deste kit.

Para algumas investigações, papel e caneta é uma abordagem mais apropriada. A combinação de técnicas de investigação tradicionais e novas pode ser muito eficaz.

Muitas vezes, apesar da abundância de informações online, há evidências que você não consegue encontrar com recursos digitais. Pode ser o caso de não haver dados sobre o seu tópico disponíveis em seu país. No entanto, muitas vezes você pode encontrar mais do que espera apenas optando por formas criativas de coleta de informações.

Por exemplo, ONGs financiadas por doadores em todo o mundo são obrigadas a conduzir estudos de fundo para explorar o contexto de seu campo de interesse antes de iniciar qualquer projeto. Durante este processo, muitas vezes conduzem pesquisas e coletam conjuntos de dados detalhados que nunca são publicados.

Você pode precisar descobrir quantos ex-combatentes da milícia voltaram para suas aldeias natais, em seu distrito, e isso não é uma tarefa fácil. Mas uma organização que fornece apoio psicológico a esse grupo específico pode ter esses números disponíveis. Da mesma forma, você pode querer saber como a contaminação de um rio afetou sua comunidade local, mas a sifícil coletar provas científicas precisas sobre isso. Talvez exista uma ONG ambiental que realizou pesquisas e entrevistas com aqueles que ficaram doentes porque beberam a água contaminada.

Em muitos casos, essas informações não são facilmente acessíveis ao público, especialmente quando se destinavam a servir como dados de fundo para outros propósitos. No entanto, se você perguntar à ONG e explicar por que precisa disso dados, muitas vezes eles podem fornecê-los a você, ou ajudar sua investigação a seguir em frente.

Algumas investigações exigirão que você conduza seu próprio trabalho de campo para reunir evidências e comprová-las. Pesquisa de campo significa que você identifica e coleta as informações em primeira mão e é sua responsabilidade documentá-las e confirmar sua precisão. Pode consistir na gravação testemunhos, coleta de amostras, observação de eventos e lugares ou saídas para vários lugares para falar com as pessoas. Essas abordagens também serão abordadas ao longo do kit.

Você também deve ter cuidado ao fazer pesquisas de campo. Seja entrando em contato com pessoas para descobrir se elas podem ser suas fontes, encontrando-as para coletar mais informações, ou indo a um local para examinar evidências, é vital estar ciente dos vários riscos envolvidos em cada etapa. Os riscos para a sua segurança pessoal e a dos outros podem ser elevados. Às vezes,você pode reduzir esses riscos, mas outras vezes eles podem ser muito grandes para você conduzir a investigação.

Saber quando reconsiderar, pedir ajuda, ou deixar um projeto de lado por um tempo, se possível, também é uma atitude saudável e um ativo para se ter como investigador.



Traduzido para português em julho de 2023